quarta-feira, 17 de julho de 2013

AS TRÊS TENTAÇÕES


                                

                                                                   Para meu amigo irmão Jorge Guilherme A. Aiex


Fosse eu mais individualista, 
 mais decidido,
sabedor que sou 
do que sinto em lugares altos,
teria refugado, 
de imediato, 
a ida a Torre Eiffel.

Faltou-me coragem 
para dizer não.
A primeira pessoa do plural, 
novamente,
foi mais forte 
do que a primeira do singular.

Na fila, 
por perto de quatro horas,
calado, suando frio, 
pensando em como desistir.
Como Pedro, 
por três vezes, 
quase caí em tentação:

- Vocês sobem, 
eu fico aguardando aqui em baixo.

A pergunta do Jorge, 
(Você está se sentindo bem?)
foi  minha primeira esperança, 
cortada, astutamente,
pela Bete: 
- “Esse homem é de aço, 
já foi à China”.

Na compra dos ingressos, 
a pergunta da bilheteira
foi a minha segunda 
grande oportunidade:

- "Só ao primeiro patamar ou até o topo"?

Voltei-me interrogativo,  
esperançoso para o grupo.
 As três vozes soaram em uníssono:
-“Até ao topo” 

Entrei no elevador, 
cabeça baixa, 
olhos no chão.

A parada no patamar 
é obrigatória; 
curte-se a vista
fantástica de Paris.  

Durante meia hora 
tiramos fotos, 
nos encantamos 
vendo a cidade 
em seus trezentos e sessenta graus.

Insinuei: 
É tudo tão lindo, tão maravilhoso!
Nem havia necessidade 
de comprarmos até o topo.

Não deram atenção. 
A resposta foi prática:
"Olha ali o outro elevador. 
Vejam o tamanho de fila!
Vamos."

Fomos; 
eu, como suponho que um boi 
vá para o abatedouro.

Entrei... era bem menor. 
Fechei os olhos. 
entreguei para Deus.

O topo, na verdade, não é o topo. 
É um andar abaixo do topo.
É bem mais largo 
em relação ao afunilamento 
incisivo da torre.
Deu-me segurança, 
senti-me, 
finalmente, 
dono da situação.

Constatei, 
lá do cocuruto, 
já calminho, 
que Paris é linda, 
e, como disse Hemingway, 
“Paris é uma festa” 
que me permito, 
com a permissão do "rei", 
acrescentar: 
“de arromba”



                           

Um comentário:

  1. As tentações estão por aí em todos os lugares e a cada momento. Em Paris, então, nem é bom falar. Resistir ou não, nem sempre é uma opção, pode ser mais função das circunstâncias.

    ResponderExcluir