sábado, 27 de setembro de 2014

NOITE DE MILAGRES


                           Quando as lâmpadas se apagaram,
ficaram apenas luzes de velas.

A guitarra portuguesa 
bramiu o acorde.
O vozeirão da fadista 
emudeceu e encantou
o VELHO PÁTEO DE SANT'ANA:

“De quem eu gosto...nem as paredes confesso”


Viajou para uma floresta 
(terá sido o vinho?),
viu-se diante de um Sobreiro,
árvore irmã dos Carvalhos.

Os galhos eram braços abertos
sem a esperança do abraço.
Os cortes, 
para a extração da cortiça,
lábios semiabertos 
para o nada.

Os aplausos 
o devolveram para a sala.

Na taça, 
a superfície do vinho tinto
 ondulou.

Foi o cair silencioso,  
solitário, 
de uma lágrima,
parte ínfima de pranto contido que, 
imprudente rolou.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O MAIOR VULTO DO BRASIL OU CONVERSA DE "BEBUM".


                                                                 Para Ronaldo Ayres

Em Lisboaao lado do
“Monumento dos Descobrimentos”,
tomamos algumas (muitas) taças de chope.

Ronaldo Ayres,
olhar perdido no Rio Tejo,
influenciado pela história tão presente,
sem afirmar, sem interrogar
e sem nem ao menos me olhar,
falou, penso, que para si mesmo:

- “Talvez seja Pedro Alvares Cabral
o maior herói do Brasil".
Dito isso, silenciou,
virou-se para mim 
como quem quer um posicionamento.

Disse-lhe:
Por aqui passou Pedro Alvares Cabral.
Passaram, também,
trezentos anos depois,
Dom João, sua corte,
os tesouros e a cultura portuguesa
para irem redescobrir o Brasil.

Interrompeu-me:  
Você quer me dizer que Dom João
é o maior vulto da história do Brasil?

Levei aos lábios a minha taça,
sorvi mais um gole do chope e disse:

Dom João é o terceiro.
O segundo é Pedro Alvares Cabral.
O primeiro, o herói maior,
 o grande vulto da história do Brasil,
 nunca colocou os pés em nossa terra.
Falo do grande Bonaparte.
Napoleão Bonaparte que em 1807,
tocou Dom João para o Brasil.

Ronaldo, com o sorriso que denuncia
o momento mais mágico do ser humano,
a semiembriaguez, decretou:
“Você é mesmo o maior.
Vou pedir mais uma chope e
brindar a Napoleão Bonaparte”.