segunda-feira, 21 de abril de 2014

A SAÍDA DE ITABIRA



                                                                                    Para Shirley G. Viana


A pedra
do caminho
é Itabira,
agrilhoada
ao coração.

É a cruz
arrastada
em calvário
Drummondiano.

A pedra é
de ferro.

A pedra é
querência.

A pedra
é a dor
de quem saiu
sem ter saído.


Itabira venceu.

O QUADRO DE ITABIRA




Baseado no poema "Confidência do Itabirano" de Drummond
                                                    
                                                                                                               

Itabira marcou, 
a ferro quente, em brasa,
o seu poeta e
salpicou pó de ferro, 
em todos nós.

Doidice!

Pode doer uma fotografia
emoldurada e pregada na parede?

É que a parede não é parede.

A parede é o peito do poeta
onde o prego manteve o quadro,
tatuagem indelével,
 mal dissimulada.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

CORDISBURGO


                                        
                                  Para Rosana Bensiman

Repentinamente,
nuvem densa,
cogumelo atômico
tomou a rua do Frei Estevão,
útero de Cordisburgo.

Alucinação “absíntica”?

Com o “desadensar”
vi, assustado,
o sumiço das casas,
de todo o povaréu.

Voltou tudo virado
imensa boiada,
grande sertão.

Na dianteira,
comissão de frente.
Seis cavaleiros.
Identifiquei
Riobaldo e Diadorim.

Na frente de todos,
o maestro mestre,
em cavalo alazão,
de capa comprida,
de chapelão,
levitava
metro e meio
acima de todos,
acima do chão.

Era São João
Guimarães Rosa.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A CASA DA DONA IRENE




Sábado de carnaval de 2014.
Anoitece em BADOPI.  

O nosso encantado BTC,
alheio a todo o seu passado,
e a Rua Governador Portela,
esquecida das suas tradições,
estão morto e morta.

Uma incoerência,
um desatino. 

Os carnavais
das cidades vizinhas
nos sitiaram, 
nos esvaziaram.

O porão da
casa da Dona Irene,
lendário baluarte,
berçário de tudo
o que houve de bom,
fábrica de sonhos
inimagináveis,
está posto de lado,
constrangido,
com cara de
casa mal assombrada.

Êh-êh!
Parece
que todos
se foram
e eu nem vi.