segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

ESTAÇÕES DA VIDA


           


Se é feliz,
embora escusado,
é o que questiona,
o que a enrudece.

Tem marido,
filhos,
é dona de lar.

Mas...
e a frincha
imperceptível
ao alheio,
por onde esvaece ?

Protagoniza um papel
que não é o sonhado,
é o que o “script”
lhe apresenta.

O ansiado,
o que a emociona,
o que a faz vibrar,
inflar,
está ao seu lado,
quase  junto,
mas...
em outra estação.

Tão perto,
tão distante.


É fatalidade
que amordaça,
que a enraíza
na clausura
do alternar
das estações.


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

EGO


                                                 Para o amigo Antônio Florêncio de Queiróz Júnior,
                                                 sinônimo de solicitude, de mansuetude, antítese da
                                                 personagem retratada no poema "EGO"


Enclausurado
em suas ausências
de senso e cultura,
vê, em tudo o que
não é reflexo,
linhas tortas,
discrepâncias,
anomalias.

Queixo semi ereto,
olhar que se reputa,
eterno sorriso esboçado,
parece entender 
nossa pequenice,
acatar 
nossa incivilidade.

Olha para o umbigo 
deificado,
apieda-se de todos nós
e, magnânimo, 
acredito,
acho até que nos perdoa. 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CARVALHO


                                                              Para Maria Célia Carvalho Milagre Marques



O Carvalho não aparece em seu nome.
O olhe que não é pouca coisa.
São mais de seiscentas espécies.

Não teria sobrado uma,
entre as "caducas", e as "perenes"
para enfeitar ainda mais o
Maria Célia Marques?

A perpetuação se dá
por " bolota" germinada,
que não é “caduca” nem “perene”.
Não vai aos extremos,
fica no meio; "semi caduca"
o que é vantagem grande.

Com diversos centenários,
Sempre prestigia nosso Brasil,
indo do esverdeado
até o amarelado.

Quando, como “bolota” cai,
fantasia novos carvalhais,
tentativa desesperadora
de compensar a ganância
da engenharia naval. 

Abandonando minha prolixidade,
voltando ao fio da meada,
desfaça a minha interrogação
enquanto a espécie
não entra em extinção.

Qual a razão da ausência,
(não vale falar em Milagres)
do Carvalho em sua nomeação?


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

BLINDADO


                     Para Maria Ester Figueiredo Alves

O meu coração selado
tem rubrica e validade;
“até que a morte nos separe”.

A ternura, não.
Universalizo-a,
açambarco a todos.

É melhor.

Informal,
sem mão dupla,
sem contra mão,
possibilita a certeza
da cumplicidade
inebriante,
que ejeta o pensar
e o amerrissa,
suavemente,
em mar encantado,
infestado de querença.

domingo, 10 de novembro de 2013

ENLUTADA




             Para Virgínia Vilela


Peço a Santo Antônio
perdão antecipado.
Sabendo,
(instinto de mulher)
que nada ocorrerá,
que, 
embora eu espere,
espere e 
espere sempre,
ficarei
como poetizou
Rosemar Pimentel,
esperando
“aquele alguém que 
gente espera sempre”,
(maldita lucidez)
"e que se sabe que não volta mais".  


terça-feira, 8 de outubro de 2013

DESLIAR




                                       Para Tatiana e Mariano


Viver é 
desatar nós.

 Vencedor
não é
quem os desune
com mais 
velocidade,
em maior número.

O desmanchar exige
habilidade, 
mais ainda;
sensatez.

Desembaraçar
sem esgarçar.

Algumas vezes,
apenas afrouxar.

Outras, 
 astúcia é 
não ser o
desfazedor.





quarta-feira, 25 de setembro de 2013

PODE ENTRAR



                                                                         Para o amigo e parceiro Lulu Anchite


Foi bom...
Você enfim abrir os olhos
Sentir o vazio da vida
e lembrar de mim.

Valorizar
o passado tão presente,
concluir
por própria conta
que você era feliz.

Você...
fez questão de terminar,
pôs de novo a fantasia
resolveu se enganar.

Apanhou,
sofreu calada pobrezinha,
hoje vem toda marcada,
quer voltar,
quer ser minha.

Ah! Foi bom,
bom que isso acontecesse,
que você
reconhecesse,
carnaval é ilusão!

Pode entrar,
nem carece de pedir licença.
Sua volta me faz tanto bem,
ah que saudade imensa.


R A U Z I T O


                                                   Para a "metamorfose ambulante" que há dez mil anos atrás                                                                                           já entendia, como ninguém, o Brasil


O homem,
de repente,
sentiu  necessidade
absoluta
de parar
para pensar.

Sentou-se e
colocou-se
a pensar.

Dez anos depois,
levantou-se.

Trazia a certeza
inexorável
de que,
mais do que nunca,
precisava parar

para pensar.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

PORTA - RETRATOS





No móvel,
no fundo da sala,
colocou,
inicialmente,
dois porta-retratos.

Em um,
seus pais.
No outro,
ela e as irmãs.

Foi há três anos.

Acho, só agora,
que antevia
 dificuldades
com a memória.

Precaveu-se.
Uma lúcida
ajuda visual.

Com o tempo, 
a névoa aumentou
os porta-retratos;

irmãos, bisnetos
netos e filhos.

Volta e meia
parecia-me
que os estudava.

Hoje, não mais.  
Passa indiferente.

A nevoaça adensa,
o vazio se expande, 
as carências se aprofundam.

Algumas vezes,
quase me pedindo desculpas,
pergunta:

“Aqui é a minha casa”? 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

FALTOU UMA BANDEIRA


                                                         Para Henrique o meu aplauso de pé, forte, prolongado.



A bandeira,
se não o maior,
é o mais emblemático
dos símbolos.

As autoridades barrenses,
nunca deram os “louros”. 
que Henrique Nora merecia.

O reconhecimento, 
a valorização,
ficaram sempre por conta
das cidades vizinhas:
Resende, Barra Mansa,
Volta Redonda, Rio de Janeiro.

Barra do Piraí não.

Alheia, sempre manteve 
a “cara de paisagem”,
mesmo depois 
da construção do SESI.

No velório,
cobriam o corpo,
tão machucado
do guerreiro Henrique,
as bandeiras
da FIRJAN,
do ROYAL,
do MENGÃO,
da ACEBP e a
do SICOMÉRCIO.

Ausente a da nossa terrinha.

Foi assim 
durante a sua vida,
foi assim 
na sua morte.

Tenho como certo
que o barrense 
Henrique Nora,
aplaudido fortemente
na saída do cortejo,
inebriado de amor
por Barra do Piraí,
já há de nos ter 
perdoado.

domingo, 15 de setembro de 2013

AMIGO, CAMARADA E IRMÃO



                                                                                    Para o amigo e mestre Henrique Nora

A teoria da relatividade
esteve presente todo o tempo.

Antecipou a viagem.
Queria a certeza de que
chegaria na hora certa.
Não chegou.

O cinto de segurança
estava afivelado,
o "air bag" abriu.
Não protegeram.

A presença do neurocirurgião
no atendimento de emergência,
 o êxito na remoção para outro hospital,
não impediram
que quase anoitecendo,
o telefone tocasse para,
com delicadeza,
informar que o
Henriquinho
havia se encantado.

Era o que se previa.
Questão, apenas, de tempo:
uma hora,
um dia,
uma semana.

Volta-se a relatividade
ou ao Rauzito;
"o melhor pode ser o pior".

Doído
é a impotência
diante do fato,
o convívio
com a saudade:
um mês,
um ano,
uma vida.


Em meu celular,
seu número vai ficar,
embora saiba,
profundamente irritado
e tristíssimo, que,
também,
não vai adiantar nada.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

DESATINO DA MULHER DA "CONFISSÃO" ?


Para Sheila Avellar, ídolo, meta, com imensa admiração.


Intuições,
sempre as tive.
Agora piorei;
premonições,
estágio acima.

Ontem,
um desvario.

Começou com um
vento forte,
encanado,
desastrado que,
sem mais nem menos,
entrou pela janela.

Para me proteger,
dei-lhe as costas.

Foi aí que vi.
Meu Deus!
(agora vão ser visões?)

Sentado na escrivaninha
estava ele,
ou pelo menos,
o vulto,
o espírito, ou
sei lá o que dele.

Manuseava minhas fotos.

Paralisei,
com os olhos 
bugalhudos,
estatelados.

Foram segundos.

Dei me conta, então,
de que eu não respirava.
Forcei a inspiração.
Graças a Deus,
respirei.

Apoiei-me
no peitoril da janela.
Labiríntica,
buscava equilíbrio,  
queria norte,
entendimento.

Como pode?
Como teria entrado?

Parecia não me ver.

Se me via,
absorto,
não me dava
importância.

Pé ante pé
caminhei
(olhos grudados nele)
até a porta do quarto
para confirmar;
sim, a porta estava trancada. 

Então,
instaurou-se
a certeza;
entrou pela janela
deste sétimo andar.

Teria vindo
com o vento?
Só pode.

Continuava circunspecto,
olhando as fotos,
indiferente ao entorno. 

Retornei cautelosa.
Medo muito
que a imagem dele desvanecesse.
Quase tropeço.
Espírito?
(só me faltava
ser filha de santo)

Sempre
de olho nele,
com a mão
já na tranca da janela,
e um dissimulado
meio sorriso,
antegozei a ideia 
que entendi brilhante
e, certa de que
era o certo,
para que ele não escapasse,
tranquei a janela.





sábado, 7 de setembro de 2013

EM BUSCA DA MULHER DA "CONFISSÃO"



                                    Para Maria Lúcia Elias Valle


Em brisa serelepe
pegou carona e
viajou sem destino certo.

Por uma janela aberta,
escancarada de quarto,
e já era noite,
concentrada no que fazia,
uma mulher fotografava.

Seria ela a da "Confissão"?  

A brisa entrou e o deixou,
sem que a mulher o percebesse,
ao lado da arca com as fotos.

Cerimonioso, característica sua,
olhou atencioso as fotografias,
todas, mas só as em preto e branco.

Nenhuma dos nascimentos,
dos batizados, formaturas,
nem sequer dos casamentos.

Nada que provasse
a existência dos três filhos,
as delícias indescritíveis
do convívio com netos,
e a alegria de ser avó.

Uma certeza cristalina:
se não é uma mulher de passado amnésico,
não é a que procura,
a que se mirou, contrariada,
afirmando-se avó, 
no espelho da “Confissão”

Como um cachecol estendido,
um apêndice da brisa o recolheu.

Ela, distraída, vitoriosa,
conferia, na máquina
as fotos que tirara. 

O que será que fotografava a mulher?

Pouco depois,
fração de segundo,
sentiu-se irrequieta,
um espécie de aviso,
quase um arrepio,
uma intuição.

Debruçou-se na janela,
fechou os olhos,
aspirou a brisa,
lembrou-se dele
e só então, sorriu.