segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A JANELA



Em todos os dias, repito o ritual .
De segunda à sexta, há quase dois anos.

Da janela do meu quarto, no terceiro andar,
aguardo que ele apareça no extremo da rua.

São dois quarteirões e eu curto,
com toda a intensidade possível,
o caminhar, a aproximação,
imaginando-o vindo ao meu encontro.

Quando está bem perto,
recuo, afasto-me da janela.
Não resistiria a um possível apelo
daquele olhar castanhos esverdeados,
quase transparente.

Passado meio minuto,
que controlo no relógio,
volto à janela e o acompanho,
agora pelas costas,
até que dobre a esquina,
saia do meu campo visual.

Então, cerro a janela, 
deito-me na cama,
fecho os olhos e revivo
em minhas saudades, 
momentos nossos,
mantendo-o, 
teimosamente, 
em meu coração.