terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

BALADA PARA UM GRANDE AMOR


                                                      Para Elisabete Gomes Pimentel

Há necessidade,
necessidade imediata 
de se fazer um grande poema.

Um poema para este amor 
que se fez grande demais.

Maior que a ternura 
dos braços que embalam,
dos lábios 
que se entreabrem
dizendo baixinho 
coisas de ninar.

Maior que a beleza 
de um roseiral 
em tarde de vento forte,
onde as rosas se despetalam
e  nos deixam sem saber 
qual o mais admirável:
se a rosa imagem, 
intocável e pura
ou a que se entrega, 
impotente, ao ardor do vento.
Lentamente,
pétala por pétala,
como se quisesse 
prolongar o instante,
aquele supremo instante,
em que o amor
é mais do que a vida 
e se faz 
amor grande demais.

IRMÃO ESTUDANTE






Vá irmão estudante,
vá à luta que a vez é sua.

Olhe que a hora é única,
o tempo não para,
não há retorno 
nem segunda vez.

Agarre-se do jeito que der,
use as mãos, 
os dentes,
as unhas, os pés.

Vá amarrotado,
no ônibus
roubado,
na barca, 
suado
no trem, 
apertado.

Vá irmão.

Esqueça a sola furada,
a barriga que ronca,
 o sono atrasado.

Ache força, irmão estudante,
nos que nunca tiveram vez.

Olhe o irmão nordestino
que nunca teve sola,
cuja barriga não ronca,
trovoa
e que tem com atraso,
não o sono,
mas a vida.

CANTIGA PARA MARIANO.


                                  Para meu querido filho MARIANO

Canta menino grande
o amor e o que há por cantar.
Faça o seu céu colorido
de mãos dadas 
brincar com o mar.



E não deixe 
que o tempo
endureça o seu olhar
guarde sempre 
o sorriso franco
e ensine 
o mundo a amar.

SOLTEIREX




                           Para Bete, eternamente Bete.

Concluiu; 
o tempo passou!
Foi então 
que resolveu 
tomar tenência. 

Deu a fantasia 
de arlequim, 
(Já não andava mais 
atrás de colombinas!)
rasgou 
o couro do tamborim, 
tirou 
as cordas do violão. 

Teve por certo 
que seu bloco 
fora abduzido.

Indagado, respondeu;
De que vale o samba
para um cantador 
encantado.

Excluiu-se do botequim,
abriu conta bancária, 
alugou apê,
careteou-se.
Foi vivenciar o seu amor.



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O CASAMENTO




O dia amanheceu
Sem que o galo cantasse.
O homem, 
desacostumado ao silêncio,
estranhou.
Correu ao quintal,
olhou para os lados
e nada vendo,  gritou:

- "Roubaram-me o galo...
eu mato o ladrão".

O vizinho, 
falou:
- "Calma Zé. 
Foi sua mulher.
  Ontem, de tardinha,  
  ela se mandou”.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

ROSAS





Chegamos ao fim.

Para mim nada sobrou
além do conforto de me saber poeta,
de poder fazer da dor maior
do amor perdido,
um canto lindo
como as rosas amarelas,
perpetuadas em prata
por suas mãos de artista.


Mas...frias, sem perfume,

tão sem vida

O DILÚVIO


 


Certo dia, 
aborrecido com o mundo,
o homem, 
sem ligar à ética e à estética,
disse tudo; 
o que podia e o que não devia.


Depois chorou,
chorou convulsivamente
toda a dor que nunca chorara.


Seu pranto era tanto 
e tão forte que,
rolando face abaixo,
encharcava-lhe a roupa,
acumulava-se a seus pés.


Por treze anos o homem chorou.



Afogando-se em suas 
próprias lágrimas,
consciente da força 
do seu pranto,
o homem, agora, 
sorria vingado,
e a humanidade,
sob um imenso dilúvio,
chorava.


ESPERANÇA




Quem sabe o inesperado acontece
e tudo se resolve?


Você acerta na mega sena,

ou um carro o atropela,


você se transforma em político,

ou o câncer o prefere,

você recebe uma herança

ou o mundo entra em guerra.


Quem sabe? 


DESLIGADO OU FORA DE ÁREA


Parecia que as coisas,
em seus indevidos lugares,
seguiriam;
nem calmas nem turbulentas,
mas que o dia anoiteceria
e a noite madrugaria 
sem maiores incidentes,
até que o celular tocou.

Foi direta, 
não queria possibilitar 
nenhuma argumentação:

- “Acabou...é pensado. 
Não quero mais.”

Desacautelado tentou o confronto.

Impávida, foi incisiva:

- “Vai doer, mas vai passar.”

Desligando o celular,
considerou que o desligou.

Algum tempo depois, 
diante da insistência 
das ligações que não atendia, 
a última mensagem:

- “Sinto muito.
Às vezes acontece...
acabou”.

A REDENTORA (1964)



              Para o amigo Ovídio Jaufret Guilhon.


Aspirante a poeta por hereditariedade,
universitário em formação,
vão, meus vinte e um anos e eu,
sob a quixotesca armadura que me impus
fazendo do lápis trincheira
e duelando em folhas de papel,
denunciar, sempre que sejam desfraldadas 
as bandeiras da injustiça, da força e da violência.

Desprezando sábios conselhos de prudência,
em minha  imprudência de jovem,
recuso os escudos do pseudônimo e do anonimato
e, peito desnudo, insisto na denúncia.

Se por ela vier o prematuro fim,
se minha voz for sufocada  
nos difíceis dias pelos quais passamos,
 que a violência 
que o causar, paire no ar,
como a denúncia última 
de quem ousou protestar. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A "CURA" DA MULHER DA "CONFISSÃO"



                                 Para Cybele, irMÃE.

Coisa incrível nossa mente.
Faz brisa 
da calmaria, 
transforma-a 
em vento forte, 
ventania, 
turbilhão.

É a mesma mente 
que me permite
 revê-lo, agora,
com a mesma serenidade 
com que olho a multidão.


AINDA VOCÊ



E eu que pensei

que meu canto 
último de amor
já lhe houvesse cantado,
que meu coração
não mais 
me falaria de você,
no tão só 
do meu quarto triste,
faço cantos 
de dor e de saudade,
chorando, 
como poeta,
o amor perdido, 
fazendo versos
que já não mais serão lidos.

BARRA DO PIRAÍ

                                                                        Quadro de CidMar

                                                                        Para Valmir Oliveira Spinelli, o  “SAPO”


A Barra do Piraí da minha cabeça é,
acima de tudo, azul e branco,
além de recatada e gentil.

O Valmir foi taxativo:

-“Terra prometida é isto aqui.”

Detalho: consistia nas varandas paradisíacas
da sede derrubada do BTC,
no Medianeira, no Nilo Peçanha,
nas lembranças encravadas, 
de maneira irremediável,
no meu e no seu coração.

Recorro, novamente, ao amigo poeta:

- “ É um pontinho no mapa do Brasil,
    mas pobre é quem ainda não te viu”.

Permito-me, aqui, alteração no tempo verbal: 
não mais o presente do indicativo, 
mas o tristíssimo pretérito imperfeito do verbo ser.

Não é...era.

Meus Deus!

Era um “pontinho”,
mas era 
escandalosamente feliz.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

MÁSCARA


Para meus pais, para a minha amada Bete e para meus filhos Bianca, Mariano e Vinicius.

Primeiro, 
tive que ser forte por meus pais.
Não podia oferecer 
a face triste 
a quem procurava 
o menino meigo que fui.

Depois, 
fui forte por meus filhos.
Não devia mostrar 
a face amarga 
oculta nos braços fortes, 
no olhar sereno do pai.

Por último
terei de ser forte na hora final.
Como apresentar a face humana
a quem, só bondade e perdão,
espera imagem e semelhança?