quarta-feira, 31 de julho de 2013

VOLTAMOS A BÚZIOS


     
                                                                               Para a minha amada Bete.


Quando fomos conhecer,
estávamos em “Lua de Mel”.
Estávamos ou estamos?

Foi no tempo da Brigitte Bardot.

Passaram-se quarenta anos,
e com a mesma alegria da vez
primeira, retornamos a Búzios.

Acumulamos alguns bens.
Os mais preciosos os anos juntos,
os três filhos tão amados e os
três netos que nos encantam e alucinam.

A maior parte da vida já percorrida
e permanecemos  de mãos dadas.

Muito? Pouco? Mais ou menos?
Quem pode saber?  Acho pouco.

Não importa o que chamamos tempo.
A validade está em ter sido com você.

Contou, durante toda a caminhada,
a sua presença querida, sempre ao lado,
dando força, impulsionando, protegendo,
amando e, acima de tudo,
 fazendo com que tudo fizesse sentido.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

É SEMPRE ASSIM



Das viagens, o melhor
é o sentimento que tenho
de querer voltar,
comprovação inequívoca
de que, onde estou, sou feliz.

O outro lado do muro é apenas
o outro lado do muro,
e por mais outro lado do muro que seja,
nunca com mais magia,
não tão sedutor,
muito menos páreo 
para onde volto.

Ainda que em um quatro estrelas,
sinto falta da minha cama,
do café da Deusa,
da caminhada no Itapoã,
da Esquina do Pecado,
da feira livre 
que resiste heroicamente
e onde,
 aos domingos pela manhã,
com alegria infantil 
patente no rosto,
compro sempre 
queijo minas bem molengão,
namoro a moenda da cana,  
como pastel frito na hora,
de palmito com carne moída. 

Passo na banca 
de jornal da Teresa,
debruço-me 
no cais do Rio Paraíba,
curto a ponte,  
os sobrados “art-nouveau”
da Rua Angélica 
onde no número 23
 nasci.

Por minha cabeça passam
o Grupo Joaquim de Macedo,
 Colégio Nilo Peçanha,
 Medianeira,   
Tênis Clube,
as matinês do 
cine Brasília,
 bossa nova,  
noites de domingo,
 Bloco do Sereno, 
os carnavais e,
 muito forte,
o porão da casa 
da dona Irene.

Não, 
o paraíso nunca foi 
nem há de ser,
ao menos nesta encarnação,
o outro lado do muro.

O paraíso é aqui.



sexta-feira, 26 de julho de 2013

CREPERIA




                                                    Para Jorge Guilherme, parceiro protagonista.



Inesperadamente, 
quase do nada, 
em fim de noite,
como objeto não identificado, 
viabiliza-se um sonho.  
Quem ousaria dizer não para Paris? 
Eu... jamais.

Ao constatar, 
na lista dos participantes,
a presença amigável 
de Jorge Guilherme,
além de redobrar-se 
minha esfuziante alegria,
veio-me na cabeça:
- é lá que vamos brindar,
comemorar os trinta anos 
em que mantivemos,
com alegria, 
a sociedade na Casa do Parafuso.

Já em Paris, 
deslumbrados  evidentemente,
brindamos muito, 
em diversas oportunidades.
A mais solene, 
certamente com champanhe,
na tradicional atração turística: 
o Moulin Rouge.

Certo dia, 
em mesa de calçada 
de creperias,
costume parisiense 
que não poderíamos 
deixar de conhecer,
Jorge Guilherme 
falou mais uma vez: 
“Vamos brindar”

Peguei meu copo, 
pronto para bater com o dele.
Para surpresa minha, Jorge, sorrindo, 
levantou-se, passou o copo dele para a Bete
e de máquina fotográfica em punho 
deu a ordem:

“Hoje já não mais 
pela Casa do Parafuso.
Brindem vocês 
a bela parceria que criaram,
aos filhos e netos que geraram, 
ao amor que exalam, 
ao carinho franqueado 
com que se dão”.

Pensei: 
 Jorge Guilherme talvez não saiba, 
mas é poeta!


terça-feira, 23 de julho de 2013

VOCÊ


No fim da tarde,
já quase anoitecendo,
voltei para vê-la.

Na sala, Eliane,
acompanhante das noites,
perguntada informou:

-“Está passando bem.
Tomou uma canjinha e disse
que ia deitar um pouco.
Ainda não deve ter dormido”.

Entrei no quarto
 já escurecido.
Estava deitada, 
coberta com uma colcha.

Toquei suavemente em seus pés.

-“O que aconteceu?
Que confusão é esta?
É noite ou é dia?”

Mãe... está anoitecendo.
Você tomou uma canjinha,
veio tirar um cochilo.

-“É verdade...tomei uma canja”.

Você não esteve bem 
na noite passada.
Não dormiu quase nada. 
Deve estar cansada.

“ É isso. Já lembrei,
 vou dormir.
Antes de ir, acenda a luz.
 Quero te ver”.

Enquanto acendia a luz, brinquei:
Está cansada 
de me ver,
sabe que não vai 
ver grande coisa.

-“ Como não?
Você é o maior,
é o maior dos maiores.
você é o meu filhão”.

Disse-lhe, já com dificuldades:

Agora vou apagar a luz.
Durma com Deus.

Socorri-me da escuridão
para esconder-lhe as lágrimas  
que já não era possível conter.



segunda-feira, 22 de julho de 2013

HIPERATIVO





                                                                    Para a barrense Déa Lucia Amaral.

Enquanto o táxi
me conduzia para
o “Oi Casa Grande”,
imaginei a cena:

Em frente ao teatro, 
zanzando com aleatoriedade,
lépida, 
entre a bilheteria e a entrada, 
caracterizada
com sua camisola de dormir, 
e “bobes” nos cabelos,
aproveitando-se da presença 
dos que ali estavam para ver 
Paulo Gustavo, seu filho,
panfletava a peça que já virara filme,
o sensacional “Minha mãe é uma peça”.

-“Mas o que é isto”?

Certamente é o que deveriam estar 
se perguntando os
incrédulos, abestalhados, 
assustados e desavisados
que não entendiam o que presenciavam, 
por não saberem
estar diante de 
Dea Lúcia Amaral, 
mãe guerreira, espartana,
dando mais uma “mãozinha” insólita, 
ao filho que já se agigantara, 
comparado com justiça,
a Pedro Almodóvar, 
pelo já, ainda em vida histórico, 
Caetano Veloso.

Para Dea,  
eternamente mãe, 
a ficha ainda não caiu.


sexta-feira, 19 de julho de 2013

LUCIDEZ



O arrumar as gavetas 
é um ritual
que se repete 
algumas vezes ao dia.
Todos os dias, 
durante a semana,
nas quatro que completam o mês.

Hoje, pouco antes do almoço, fui vê-la.

Estava arrumando as gavetas e disse-me:

 “Até agorinha, 
estava deitada,  
olhos abertos,
sem sono, 
mas sem vontade 
de fazer nada”.

Disse-lhe: 
arrumar as gavetas é sempre necessário.

“Pois é, mas como tudo na vida é preciso vontade.
 Só faço o que quero e só quando quero.
Afinal, não tenho mais filho para olhar”!

Fiz a provocação:- E eu? Não sou seu filho?

Olhou-me, 
com riso de artimanha, 
e respondeu-me:

“Você não precisa  
que eu olhe por você.
“Agora, meu filho, 
é você quem olha por mim”.


quarta-feira, 17 de julho de 2013

AS TRÊS TENTAÇÕES


                                

                                                                   Para meu amigo irmão Jorge Guilherme A. Aiex


Fosse eu mais individualista, 
 mais decidido,
sabedor que sou 
do que sinto em lugares altos,
teria refugado, 
de imediato, 
a ida a Torre Eiffel.

Faltou-me coragem 
para dizer não.
A primeira pessoa do plural, 
novamente,
foi mais forte 
do que a primeira do singular.

Na fila, 
por perto de quatro horas,
calado, suando frio, 
pensando em como desistir.
Como Pedro, 
por três vezes, 
quase caí em tentação:

- Vocês sobem, 
eu fico aguardando aqui em baixo.

A pergunta do Jorge, 
(Você está se sentindo bem?)
foi  minha primeira esperança, 
cortada, astutamente,
pela Bete: 
- “Esse homem é de aço, 
já foi à China”.

Na compra dos ingressos, 
a pergunta da bilheteira
foi a minha segunda 
grande oportunidade:

- "Só ao primeiro patamar ou até o topo"?

Voltei-me interrogativo,  
esperançoso para o grupo.
 As três vozes soaram em uníssono:
-“Até ao topo” 

Entrei no elevador, 
cabeça baixa, 
olhos no chão.

A parada no patamar 
é obrigatória; 
curte-se a vista
fantástica de Paris.  

Durante meia hora 
tiramos fotos, 
nos encantamos 
vendo a cidade 
em seus trezentos e sessenta graus.

Insinuei: 
É tudo tão lindo, tão maravilhoso!
Nem havia necessidade 
de comprarmos até o topo.

Não deram atenção. 
A resposta foi prática:
"Olha ali o outro elevador. 
Vejam o tamanho de fila!
Vamos."

Fomos; 
eu, como suponho que um boi 
vá para o abatedouro.

Entrei... era bem menor. 
Fechei os olhos. 
entreguei para Deus.

O topo, na verdade, não é o topo. 
É um andar abaixo do topo.
É bem mais largo 
em relação ao afunilamento 
incisivo da torre.
Deu-me segurança, 
senti-me, 
finalmente, 
dono da situação.

Constatei, 
lá do cocuruto, 
já calminho, 
que Paris é linda, 
e, como disse Hemingway, 
“Paris é uma festa” 
que me permito, 
com a permissão do "rei", 
acrescentar: 
“de arromba”



                           

sexta-feira, 12 de julho de 2013

TATUAGEM




                                                        Dedicado, saudosamente, para Anelise.


Assustei-me com a notícia:
- “Mariano vai fazer uma tatuagem”

Na minha infância, 
coisa de marinheiro.

Na adolescência, 
já entre prostitutas e cafifas.

Mais tarde, 
com os hippies, 
surfistas e lutadores.

Depois, 
avançou para o esporte em geral,
alcançou os artistas , 
os cantores e 
virou moda.

Então, 
por qual razão 
assustei-me com a informação?

Meu filho é um Doutor, 
professor de Universidade.
É um intelectual, 
autor de livro recentemente premiado.

Escrevo, escrevo e 
não me posiciono.
Ser prolixo foi 
sempre coisa minha.
Certamente a idade acentuou, 
e, no  entendimento da Bete, 
acentuou muito.

Não me consultou. 
Para que? 
Já tem 38 anos.

Postando no meu perfil, 
fez o questionamento pelo avesso,
me “cutucou”, 
me intimou a manifestação.


Respondo em poema, 
maneira com a qual melhor sei falar:

A vida é um eterno comparar. 
Carecemos de parâmetros.
Sim, assustei-me, 
mas não o contrario, 
pois poderia ser pior:
um desastre, 
uma bala perdida,  
um AVC, 
um câncer.

Deus, 
novamente, 
comigo, foi piedoso; 
é só uma “Tattoo”.


                                     




COLO DE MÃE



Que brinquem no céu de roda,
o sol, a lua, as estrelas
e outros quaisquer astros
que motivos tenham para brincar.

A Terra, não.
Que se mantenha alheia, apartada.
Que se limite a translação e a rotação.

Que se mantenha condenada
a mais desesperadora 
e imutável solidão.

Que tenha por alívio, 
no máximo,
como eu nesta calçada, 
o direito de
sentar-se na Via Láctea 
e se por a chorar.

domingo, 7 de julho de 2013

A CASA DE MARY



                          Para minha irmã Cybele


O portão da casa da minha mãe,
quando abrindo ou fechando, 
faz um rangido que 
funciona como um alerta.

Penso que isso a trouxe 
para a varanda
enquanto eu ainda subia a escada.

Expressão muito aflita, 
foi logo falando:

“- Graças a Deus que você chegou!
Não quero mais ficar neste lugar.
Quero ir para a minha casa”.

Subi calado até o último degrau.
Beijei-a, 
envolvi-a em meus braços
e fui conduzindo-a 
para o interior da casa.

Na sala, em um canto, emoldurado,
há uma fotografia 
de Rosemar Pimentel.
Apontando para o quadro, 
perguntei-lhe:
Mary Joe, quem é aquele ali no quadro?

“Ah! é o meu querido marido, 
o Rosemar Pimentel.
Fomos muito felizes. 
Era um ótimo homem.
Dei muita sorte. 
Sempre vivi bem cercada.
Deus só botou gente 
muito boa ao meu lado.
Veja... você e a Cybele. 
Filhos maravilhosos.

Perguntei-lhe: 
e a Cybele, como está?

-“Ótima, 
esteve aqui cedo, 
abastecendo a casa.
Trouxe estas tangerinas”.

Da fruteira, 
em cima da mesa, 
retirou duas.
-“Para você e para mim. 
Você vai gostar”.

Comi a tangerina 
olhando e sorrindo para ela.
Terminando, disse-lhe: 
Estou com sono.

“Tire uma soneca 
ali no meu quarto.
Vou puxar a cortina 
para fazer escurinho”.

Mary Joe já havia voltado para a sua casa.