segunda-feira, 29 de abril de 2013

CONSPURCANDO A “ESTRELA DA MANHÔ





             Baseado no poema "ESTRÊLA DA MANHÃ" DE MANUEL BANDEIRA.


Eu quero.
Onde está?

Meus amigos, 
meus inimigos,
procurem.

Desapareceu. 

Ia nua.

Procurem por toda parte.
Sou um homem sem orgulho,
um que aceita tudo.

Que me importa?
Eu quero.

Pecai por todos, 
pecai com todos.
Pecai com os malandros, 
pecai com os sargentos, 
pecai 
com os fuzileiros navais.

Pecai de todas as maneiras, 
com os gregos 
e os troianos, 
com o padre 
e com o sacristão,
com o leproso de Pouso Alto.

Depois, comigo.

Te esperarei 
com mafuás,
novenas, 
cavalhadas.

Comerei terra 
e direi coisas 
de uma ternura 
tão simples 
que tu desfalecerás.

Procurem 
por toda a parte.
Pura ou degradada 
até a última baixeza.

Eu quero.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

ENSINANDO-ME O AMOR



Visito-a diariamente.
Antes do almoço e ao anoitecer.
Vez ou outra, confusa,
questiona-me com queixume:

- “Está sumido.”

Não desminto.
Confirmo e invento:
-"Muito trabalho".

Sento-me e ouço
histórias recontadas.
Demonstro interesse,
mostro-me expectante.
Sorrio na hora certa,
arregalo os olhos de espanto.

Ontem, novamente,
como conheceu meu pai.
Precisa nas palavras,
invariável o final:

-“O vaticínio 
da dona Nina professora 
falhou.
Acabamos casando”.

Encerra dando risadas.
Encantado, sorrio junto.

Em pé faço a despedida.
Da cadeira de balanço,
pede-me:

-“Abaixe-se,
chegue o seu rosto aqui...
quero dar-lhe um beijo”.

Após o beijo segreda:
“Você alegra a minha vida”.
  

terça-feira, 9 de abril de 2013

DEBUTANTE


                                Para os dos anos sessenta.


Que horas são?

São onze horas.

E o que faz ela agora?

Cercada de homens,
deitada na areia,
o corpo bronzeia.

Expõe ao sol e ao sal,
aos olhares amorais,
(entre eles o do garoto)
o corpo cansado da vida que leva,
vazia em tudo, exceto em homens.

Que horas são?

São dezessete horas.

E o que faz ela agora?

Deitada na cama,
serve de pasto 
a quem já não ama,
mas lhe dá carro 
e apartamento
além de mesada 
no fim da semana.

Que horas são?

São vinte e três horas.

E o que faz ela agora?

Deita com seu garoto
e se sente mulher.

Logo com ele, que além
de quase menino,
ousou cantar em versos
esta história de mulher.




domingo, 7 de abril de 2013

É A VIDA.





Foi pelo telefone,
ainda não era celular,
que chegou o pedido:

-“Pai, chega em casa.
   Preciso muito com o senhor”

Minha filha, oferecendo-me cadeira,
fez-me a confissão:
- “Estou grávida”.

Sentei-me e perguntei-lhe:
Sua mãe já sabe?
- “Não, quero que você conte.”

O incidente fez com que minha neta
nascesse aqui; é  barrense.

Dois anos depois, de branco, foi destaque
como “Dama” no casamento dos pais.

Hoje, novamente de branco,
deslumbra em sua festa de debutante.

A mestra de cerimônia convocou:
- “O avô...para dançar a valsa”.
Trôpego, atravesso o salão.
Rodopio com minha neta.

Refeito da emoção,
refugio-me na escadaria.
Olhando para o céu,
dou uma piscadela e sorrio
agradecido, para Deus.