segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

PRESIDENTE JOÃO ZAMBELI







Sem mais nem menos,
um mal estar.

Corre para a  Santa Casa.

Pressão vinte e oito.

Leva para Vassouras: AVC.

Transfere para o Rio,
 o São Lucas vai resolver.

 Dopado,
 entubado,
 traqueostomizado:
uma “Via crucis”

 A Ilha continuou, mas... tensa.

As informações, em surdina,
sem pressa e sem vontade, 
um mau sinal.
Eram o avesso do Presidente:
falante, pragmático,
transparente, alegre,  
criativo, arteiro.

De repente, 
"não mais que de repente",
em plena ressaqueada manhã
da segunda de Carnaval
( poderia ser em outra data?),
após curtição do Cordão da Bola Preta,
 a notícia escancarada:

Acabou o sofrimento,  
João Zambeli se “encantou”.

Se já não podia ser aqui,
subiu e foi brincar o Carnaval.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O SORRISO







No início era Sonia Helena da Rocha,
a Soninha da Dona Hilda, do seu Lourival.

Depois foi Sonia Helena Mansur,
a Soninha do Flavio Mansur,
a mãe do Marcelo, da Fernanda.

A menção às “crianças” me leva
à “Casa da Dona Irene”,
mãe de toda uma geração,
onde quase que diariamente,
durante infância e adolescência,
bati ponto procurando o Flávio.

A vida que provoca
encantadoras aproximações,
é a mesma que afasta
sem maiores explicações.

Nos últimos cinquenta anos,
nunca fui à casa do amigo,
nem ele a minha.

Passa tão rápido o tempo,
que não nos damos conta de nada.
Em um átimo, setentões.

Atam-se nós, 
desatam-se nós.
Que corda bamba!

Não passaram e não passarão,
a lembrança do convívio,
a admiração crescente,
a alegria dos encontros,
a imagem forte,
gravada na mente,
como amorosa tatuagem,
do sorriso bonito da Soninha.


sexta-feira, 14 de outubro de 2016

REENCONTRO





A aflição que tanto
o angustiava,
de repente,
desapareceu.

Sentiu-se leve.

A sensação,
finalmente,
era boa.
Tão boa!

Ouviu, ainda longe,
uma voz,
um chamamento:
-“Pai...papai”.

Estaria sonhando?
Forçou a atenção,
procurando o entendimento
Em um átimo,
tudo ficou claro:
Era sua filha
que se aproximava.

Vinha flutuando.

Tentou levantar-se.
Viu que, agora,
era fácil;
estava levitando.

Abriu os braços
para Gabi que,
felicidade nos olhos,
vinha sorrindo.

Era o dia das crianças e
Jorge Aníbal de Andrade
havia se “encantado”.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A JANELA



Em todos os dias, repito o ritual .
De segunda à sexta, há quase dois anos.

Da janela do meu quarto, no terceiro andar,
aguardo que ele apareça no extremo da rua.

São dois quarteirões e eu curto,
com toda a intensidade possível,
o caminhar, a aproximação,
imaginando-o vindo ao meu encontro.

Quando está bem perto,
recuo, afasto-me da janela.
Não resistiria a um possível apelo
daquele olhar castanhos esverdeados,
quase transparente.

Passado meio minuto,
que controlo no relógio,
volto à janela e o acompanho,
agora pelas costas,
até que dobre a esquina,
saia do meu campo visual.

Então, cerro a janela, 
deito-me na cama,
fecho os olhos e revivo
em minhas saudades, 
momentos nossos,
mantendo-o, 
teimosamente, 
em meu coração.



sábado, 23 de janeiro de 2016

DO CIRCO VIVO E DO DIREITO À FUGA






Um dia haverá em que o sol e a terra,
por causas divinas, geográficas ou políticas,
aproximar-se-ão tanto que ninguém mais
viverá a sombra de outro.

A luz intensa impedirá que a noite
acoberte a face real do homem.
Será o fim da mentira e da violência.
Cara a cara, descoberto, não se viola, não se mente.
Força-se a vontade, cuida-se da aparência.
Finge-se não ser, vive-se não sendo.

Com o passar do tempo, o homem ciclotímico
se amoldará na dubiedade e não mais se encontrará.
Aí, a fraternidade paradisíaca renascerá.
A igualdade deixará de ser mito,
a cor da pele, o berço e o sangue,
não mais mandarão nem serão mandados

Se o sol tornar a se afastar, se a noite voltar a existir,
o homem agora, não por vontade, mas por circunstâncias,
já humanizado, não retroagirá.

Luter King, Hiroshima e Vietnã não mais existirão.

Os homens estarão envolvidos com o cultivo das flores,
que, finalmente, serão trocadas entre irmãos.









quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

PRÓXIMA PARADA



Após setenta e dois anos
entre erros e acertos,
procuro um norte para o que
ainda possa haver de futuro.

Recorro a genética e vejo que meu pai
encantou-se aos sessenta e nove anos.
Já passei da hora!
Socorro-me com Mary Joe
que resistiu até aos 93.
 Mais 21 anos não dá
e também não quero.

O passar dos trens de carga da MRS,
extremamente barulhentos mesmo ao longe,
me relembra ter sido, Barra do Piraí,
o maior entroncamento ferroviário do Brasil.

Devaneio para a década de 50 e lá estou eu,
sentado na poltrona de um vagão
dos equivocadamente eliminados trens de passageiros.

Surge o bilheteiro, fardado, gritando:
-Próxima parada... Estação do "Encantamento”.

Fingindo não entender, faço cara de paisagem.

O bilheteiro, um tom acima, repete:
-Próxima parada... Estação do "Encantamento”.

Preocupado com minha indiferença,
Inclina-se ao lado da minha poltrona e
 vaticina, baixinho, no meu ouvido :

-Passageiro de Barra do Piraí...
próxima parada, Estação do "Encantamento”.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

AS CRACAS



Definiu:
Irá aproveitar a virada do ano para
livrar-se de todas as cracas.

Fez sua lista, 
embora soubesse ser desnecessário.
Todas as cracas eram, 
na verdade, uma só: Ele.

Pensou nas providências 
a serem tomadas:
Pular as sete primeiras ondas, 
a mais prazerosa.
O mar tão perto é tão lindo.

Flores para Iemanjá.
É a solução.
Doze rosas brancas
e mais uma única, 
vermelha, 
no meio do buquê.

Será um massacre.

O branco da paz 
haverá de vencer,
por compressão ou asfixia,
a rosa vermelha, 
paixão,
craca da qual
ainda não 
conseguiu se livrar.