sexta-feira, 24 de outubro de 2014

UM BEIJO

                                                                                               

                                       Como um vento imprevisto,
rápido e meio rasteiro,
adentrou pela porta do quarto,
estancou ao seu lado que,
deitado na cama, dormia.

Dormia, mas a enxergava.

Inclinou-se sobre ele,
passou a mão direita pelo seu rosto,
envolveu-lhe o queixo e,
com o polegar e o indicador,
pressionou com força suave,
mas contínua, aproximando
suas comissuras labiais.

Foi se formando, lentamente,
dos lábios, um bico.
Formado o bico, manteve-o.
Ficou olhando sua obra;
ora de frente, ora de esguelha.

De olhos fechados,
dormindo, ele via tudo

Sorrindo, ela inclinou-se mais
e, suave, muito suavemente,
como o despertar de uma manhã,
com delicadeza e ternura,
introduziu sua língua morna,
adocicada e maleabilizada,
no bico em que a pressão dos dedos
transformara aqueles lábios.

Foi uma delícia...uma loucura!

Repentinamente,
como um raio,
de maneira oposta à invaginação,
a língua, em um átimo,
se excluiu.

Tentou retê-la sem sucesso.
Abriu os olhos de quero mais.
 Não havia ninguém, 
apenas, em rota de fuga, 
pela janela, um beija-flor.