sábado, 14 de março de 2015

A PISCINA DO BTC




Entro na água morna da piscina do Tênis,
reconciliando relação interrompida há trinta anos.

Ninguém...só eu na piscina de água cristalina.

Deixo-me flutuar, corpo quase todo submerso.
Acima da água, só parte do pescoço e a face.

Olhos fechados, não mais um simples homem,
agora, alguma coisa inexplicável e em êxtase.

Lentamente abro os olhos 
e me deslumbro, apequenado, 
com a imensidão do céu azul, 
com o branco das nuvens, 
o dourado do sol.

Já não apenas flutuo...levito...
levanto voo....
afasto-me da Terra,
perdido em delírios 
na imensidão cósmica,
transmutado 
em imaginário aquastronauta.

segunda-feira, 2 de março de 2015

O ENCANTAMENTO DE MARY JOE


                                         Para minha irmã Cybele. 

Maria Célia Marques poetizou:

“Mary Joe, no domingo de carnaval,
pediu passagem e passou para sempre”.

É, mas não foi assim, sem mais nem menos.

Mary, que foi sempre um “general”,
exigiu um ritual, toda uma preparação anterior.

Convocou a presença da filha tão amada,
Cybele, companheira de sempre e apoio em tudo,
para passarem juntas a noite; uma despedida?

Noite em claro, conturbada, de dores e delírios:
-“Precisamos fazer um bolo para o Rosemar”
-“E os meus pais? Estão atendendo bem a eles”?

Depois, uma ambulância, um quarto de hospital.
          Na cama, já no soro, comigo em pé a seu lado.
apoiou-se em meu braço esquerdo, 
projetou seu corpo para um abraço, com o qual,
suponho, em último afago, tenha se despedido de mim.

Com a ajuda do oxigênio, aquietou-se.
Parecia dormir... tranquilizou a todos nós.
Pouco depois, a afirmativa hesitante da neta Bianca:
-“Pai...acho que a vó parou de respirar”.

Mary havia se encantado,
foi rever os de um passado tão querido,
livrar-se das limitações que a idade lhe impunha.

Em uma lufada de vento, foi ser, nova e plenamente,
Maria José Andrade Pimentel.