quarta-feira, 25 de setembro de 2013

PODE ENTRAR



                                                                         Para o amigo e parceiro Lulu Anchite


Foi bom...
Você enfim abrir os olhos
Sentir o vazio da vida
e lembrar de mim.

Valorizar
o passado tão presente,
concluir
por própria conta
que você era feliz.

Você...
fez questão de terminar,
pôs de novo a fantasia
resolveu se enganar.

Apanhou,
sofreu calada pobrezinha,
hoje vem toda marcada,
quer voltar,
quer ser minha.

Ah! Foi bom,
bom que isso acontecesse,
que você
reconhecesse,
carnaval é ilusão!

Pode entrar,
nem carece de pedir licença.
Sua volta me faz tanto bem,
ah que saudade imensa.


R A U Z I T O


                                                   Para a "metamorfose ambulante" que há dez mil anos atrás                                                                                           já entendia, como ninguém, o Brasil


O homem,
de repente,
sentiu  necessidade
absoluta
de parar
para pensar.

Sentou-se e
colocou-se
a pensar.

Dez anos depois,
levantou-se.

Trazia a certeza
inexorável
de que,
mais do que nunca,
precisava parar

para pensar.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

PORTA - RETRATOS





No móvel,
no fundo da sala,
colocou,
inicialmente,
dois porta-retratos.

Em um,
seus pais.
No outro,
ela e as irmãs.

Foi há três anos.

Acho, só agora,
que antevia
 dificuldades
com a memória.

Precaveu-se.
Uma lúcida
ajuda visual.

Com o tempo, 
a névoa aumentou
os porta-retratos;

irmãos, bisnetos
netos e filhos.

Volta e meia
parecia-me
que os estudava.

Hoje, não mais.  
Passa indiferente.

A nevoaça adensa,
o vazio se expande, 
as carências se aprofundam.

Algumas vezes,
quase me pedindo desculpas,
pergunta:

“Aqui é a minha casa”? 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

FALTOU UMA BANDEIRA


                                                         Para Henrique o meu aplauso de pé, forte, prolongado.



A bandeira,
se não o maior,
é o mais emblemático
dos símbolos.

As autoridades barrenses,
nunca deram os “louros”. 
que Henrique Nora merecia.

O reconhecimento, 
a valorização,
ficaram sempre por conta
das cidades vizinhas:
Resende, Barra Mansa,
Volta Redonda, Rio de Janeiro.

Barra do Piraí não.

Alheia, sempre manteve 
a “cara de paisagem”,
mesmo depois 
da construção do SESI.

No velório,
cobriam o corpo,
tão machucado
do guerreiro Henrique,
as bandeiras
da FIRJAN,
do ROYAL,
do MENGÃO,
da ACEBP e a
do SICOMÉRCIO.

Ausente a da nossa terrinha.

Foi assim 
durante a sua vida,
foi assim 
na sua morte.

Tenho como certo
que o barrense 
Henrique Nora,
aplaudido fortemente
na saída do cortejo,
inebriado de amor
por Barra do Piraí,
já há de nos ter 
perdoado.

domingo, 15 de setembro de 2013

AMIGO, CAMARADA E IRMÃO



                                                                                    Para o amigo e mestre Henrique Nora

A teoria da relatividade
esteve presente todo o tempo.

Antecipou a viagem.
Queria a certeza de que
chegaria na hora certa.
Não chegou.

O cinto de segurança
estava afivelado,
o "air bag" abriu.
Não protegeram.

A presença do neurocirurgião
no atendimento de emergência,
 o êxito na remoção para outro hospital,
não impediram
que quase anoitecendo,
o telefone tocasse para,
com delicadeza,
informar que o
Henriquinho
havia se encantado.

Era o que se previa.
Questão, apenas, de tempo:
uma hora,
um dia,
uma semana.

Volta-se a relatividade
ou ao Rauzito;
"o melhor pode ser o pior".

Doído
é a impotência
diante do fato,
o convívio
com a saudade:
um mês,
um ano,
uma vida.


Em meu celular,
seu número vai ficar,
embora saiba,
profundamente irritado
e tristíssimo, que,
também,
não vai adiantar nada.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

DESATINO DA MULHER DA "CONFISSÃO" ?


Para Sheila Avellar, ídolo, meta, com imensa admiração.


Intuições,
sempre as tive.
Agora piorei;
premonições,
estágio acima.

Ontem,
um desvario.

Começou com um
vento forte,
encanado,
desastrado que,
sem mais nem menos,
entrou pela janela.

Para me proteger,
dei-lhe as costas.

Foi aí que vi.
Meu Deus!
(agora vão ser visões?)

Sentado na escrivaninha
estava ele,
ou pelo menos,
o vulto,
o espírito, ou
sei lá o que dele.

Manuseava minhas fotos.

Paralisei,
com os olhos 
bugalhudos,
estatelados.

Foram segundos.

Dei me conta, então,
de que eu não respirava.
Forcei a inspiração.
Graças a Deus,
respirei.

Apoiei-me
no peitoril da janela.
Labiríntica,
buscava equilíbrio,  
queria norte,
entendimento.

Como pode?
Como teria entrado?

Parecia não me ver.

Se me via,
absorto,
não me dava
importância.

Pé ante pé
caminhei
(olhos grudados nele)
até a porta do quarto
para confirmar;
sim, a porta estava trancada. 

Então,
instaurou-se
a certeza;
entrou pela janela
deste sétimo andar.

Teria vindo
com o vento?
Só pode.

Continuava circunspecto,
olhando as fotos,
indiferente ao entorno. 

Retornei cautelosa.
Medo muito
que a imagem dele desvanecesse.
Quase tropeço.
Espírito?
(só me faltava
ser filha de santo)

Sempre
de olho nele,
com a mão
já na tranca da janela,
e um dissimulado
meio sorriso,
antegozei a ideia 
que entendi brilhante
e, certa de que
era o certo,
para que ele não escapasse,
tranquei a janela.





sábado, 7 de setembro de 2013

EM BUSCA DA MULHER DA "CONFISSÃO"



                                    Para Maria Lúcia Elias Valle


Em brisa serelepe
pegou carona e
viajou sem destino certo.

Por uma janela aberta,
escancarada de quarto,
e já era noite,
concentrada no que fazia,
uma mulher fotografava.

Seria ela a da "Confissão"?  

A brisa entrou e o deixou,
sem que a mulher o percebesse,
ao lado da arca com as fotos.

Cerimonioso, característica sua,
olhou atencioso as fotografias,
todas, mas só as em preto e branco.

Nenhuma dos nascimentos,
dos batizados, formaturas,
nem sequer dos casamentos.

Nada que provasse
a existência dos três filhos,
as delícias indescritíveis
do convívio com netos,
e a alegria de ser avó.

Uma certeza cristalina:
se não é uma mulher de passado amnésico,
não é a que procura,
a que se mirou, contrariada,
afirmando-se avó, 
no espelho da “Confissão”

Como um cachecol estendido,
um apêndice da brisa o recolheu.

Ela, distraída, vitoriosa,
conferia, na máquina
as fotos que tirara. 

O que será que fotografava a mulher?

Pouco depois,
fração de segundo,
sentiu-se irrequieta,
um espécie de aviso,
quase um arrepio,
uma intuição.

Debruçou-se na janela,
fechou os olhos,
aspirou a brisa,
lembrou-se dele
e só então, sorriu.


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

QUERÊNCIA




                                          Para o amigo Irany Nóbrega
                                            que se "encantou"aos 67 anos,
                                  mas que queria, muito,
                           continuar  vivendo.


É...
Foi-se o tempo
e fiquei eu.

Aspirante
à semente
em tempo de seca.

Frágil,
senil,
desidratado,
quebradiço.

Todos se foram,
a peça chegou ao fim.

Por que não se
apagam as luzes?