Para Mirela Blazutti Anchite
Agora dei para isto:
quando menos espero
a imagem dele
está em minha mente,
quase ao meu lado.
Zango comigo e falo
olhando-me no espelho:
“Criatura, você é mãe
de três filhos... é avó”!
Era coisa
totalmente esquecida,
perdida como os quase
cinquenta anos passados,
na qual nem mesmo eu
já me ligava mais.
Não era, na verdade,
coisa nenhuma.
Desimportante,
apenas lembrança desbotada
e que, frustrada,
constato, só agora
na atualidade,
sua unilateralidade.
Coisas da infância,
criação da mente,
paixão de aluna
aos seis anos,
pelo colega, pelo professor.
Como o pote de ouro
no final do arco-íris,
existente apenas
na menina ensimesmada
e sensível que fui.
Se o visse,
nos dias tão distantes de hoje,
se cruzássemos,
via ciladas que a vida nos arma
a mesma calçada,
certamente não nos reconheceríamos;
nem eu a ele, o que lamentaria,
e muito menos ele a
mim.
Um dia,
e que coisa mais estranha é a vida,
sem que previsibilidade nenhuma
pudesse justificar,
sem que me lembre como e via quem,
navegando inocente neste bandido
e tão querido
“facebook”,
vejo sua foto e, o que foi pior,
o que foi fatal: li
seu texto.
Ah!.. para quê?
Mãos trêmulas,
nocaute...
lona na
hora.
Fui adicionada ou adicionei?
Nem isto, juro, mais eu
sei.
Como disse, não foi lento nem progressivo.
Foi instantâneo, imediato, súbito.
Como uma brisa,
até um pouco mais forte,
com intensa fragrância
de saudades soprando em mim.
Apesar dos anos passados,
tonta, voltei a me encantar,
sentindo falta de ver,
de querer tocar,
de conversar
com alguém para quem,
na verdade, nunca existi,
e de quem,
a vida inteira ausente,
nunca esqueci.