terça-feira, 18 de novembro de 2014

DESINTERNANDO-SE






O dia era 13.
Por sorte, talvez, 
ainda uma quinta.

Mary Joe,
sem aviso prévio,
deu um piripaque,
prostrou-se trêmula
 em sua cama e apagou.

Corre, acode,
chama o médico.

- “O mais recomendado é internar.
A ambulância vem apanhar”.

Já era madrugada da sexta
quando Mary Joe, 
no quarto do hospital, 
entrou no soro.

A medicação foi certeira.
No entardecer da sexta,
 já lúcida, Mary
começou a indagar:

- “Onde é que eu estou”?
No hospital.
- “Mas que besteira... eu não tenho nada”.
“Quero ir ao banheiro”
Não pode sair da cama, está no soro.
- “Mas eu preciso ir ao banheiro...”
Não pode. Está de fraldão. Faça aí mesmo.

Foi aí que o médico entrou no quarto,
e é aí que começa, de fato, a história:

“ Respondeu muito bem aos medicamentos.
Poderá ter alta na segunda”.

A sexta anoiteceu com
Mary irritada, impaciente.
querendo sair da cama,
querendo ir ao banheiro.

Na madrugada do sábado,
 no escurinho do quarto, 
Mary Joe quietinha
desceu da cama,
arrancou o soro.
 Com a agulha no braço
e o sangue espirrando
no piso branco do quarto, 
anunciou:
-“Vamos embora”.

Corre-corre geral.

Não aceitou novo soro,
nem voltar para a cama.

No sábado, cedinho,
deram-lhe alta.

Mary Joe havia se desinternado.



5 comentários:

  1. Maria Célia Marques - "Envelhecer se dá de forma diferente de um para outro, são evidentes as limitações, mas Mary Joe mantém a cultura que, normalmente, os idosos perdem lentamente. Quer coisa mais interessante do que desejar sair do hospital achando que era uma “Besteira”? E “Querer ir ao banheiro”? Coisa mais horrível “fazer no fraldão”. A menos que seja indispensável. Para ela não era. Sua cultura ainda prevalece mesmo com a idade avançada e mesmo internada. Outro fato que adorei: a reação, para mim saudável, de anunciar “Vamos embora”. Que saudável este gesto de uma matriarca cheia de si e de vontade de ir para sua casa. Parabéns Mary Joe! Você venceu a tudo. Saúde e Tim Tim!"

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  2. Tatiana Pimentel - "Das fragilidades da vida, dos momentos de inquietação, do susto acompanhado de apreensão, nó na garganta e coração apertado.
    Já dizia o meu avô Pimentel, que um dia conhecerei em outro plano: "Envelhecer é uma humilhação".
    Penso que vovó sabiamente o corrigiria: "Envelhecer é uma humilhação... para os outros!".
    Acredito que a primeira coisa a fazer, ao chegar em casa, foi tirar o "raio do fraldão".
    Essa é a nossa Mary Joe!

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  3. Núbia Nonato escreveu: -" Para Mary Joe. E antes que a dita cuja com sua foice ceifadeira venha a se alongar, dou-lhe um rabo de arraia, pinto bem a carranca e mando-lhe um sai pra lá. A vida me espera e tem precisão! Xô doença, xô indisposição! Gosto da minha casa com cheiro de lar, com filhos e algazarra onde cada sopro de vida me instiga a despertar todos os dias"

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  4. Cybele Pimentel Sá: -" Bem assim. O poema retratou perfeitamente o ocorrido. Mary é e sempre foi uma mulher forte. Frágeis somos nós. Parabéns, meu irmão. Gostei muito do poema."

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  5. Maria Alice De toledo Gaspar-"Essa é a Mary Joe! Determinada e sem rédeas. Ela comanda o espetáculo! Amei os textos de Orlando Pimentel e Tatiana Pimentel! Aplaudo de pé! e...acima de tudo a \" fortaleza" que representa, como disse a querida Barbara Williams! Tati, você é uma neta E TANTO! Beijos "

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