quarta-feira, 5 de junho de 2013

O DUBLÊ

                                         
                                                                     Para o mestre Nelson Rodrigues


No dia do casamento,
O pedido solene do sogro;
-“Quero um neto”.

Três meses,
seis meses,
um ano.


Sem comentar
foi a  médico famoso,
desconhecido em seu meio:

-“Estéril. 
Sem alternativas.
Irremediavelmente estéril”.

Ao chegar em casa,
desolado, ouviu do sogro;

“E o meu neto”?

Sorriu e não hesitou:

"Estamos caprichando".


Certa tarde,
cinco anos depois,
no trabalho,
atendeu a telefonema
da esposa.

Pouco depois de desligar, 
pálido por alguns segundos, 
entrou em êxtase.

Com o semblante feliz
 gritou várias vezes 
para que todos, na repartição, 
pudessem ouvir:

- "Minha mulher está grávida. 
   Vou ser pai".

Ajoelhou-se e,
comovendo a todos,
com o olhar no crucifixo 
pregado na parede,
chorou convulsivamente,
como só os pais
são capazes de chorar.



2 comentários:

  1. O texto, se possível fosse, para ser justo, deveria ser atribuído a uma mulher. Elas sim, e só elas, são capazes da renúncia total,de abrir mão do "EU" em benefício do "NÓS", de perdoar, "fazendo das tripas coração",o imperdoável.

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  2. Nelson Rodrigues foi um dos maiores conhecedores da alma humana. Soube vê-la, entendê-la e perdoá-la como ninguém. O poema "O DUBLÊ", muito mais do NELSON do que meu, é minha homenagem ao grande Nelson Rodrigues.

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