No dia do casamento,
O pedido solene do sogro;
-“Quero um neto”.
Três meses,
seis meses,
um ano.
Sem comentar
foi a médico famoso,
desconhecido em seu meio:
-“Estéril.
Sem alternativas.
Irremediavelmente estéril”.
Ao chegar em casa,
desolado, ouviu do sogro;
“E o meu neto”?
Sorriu e não hesitou:
"Estamos caprichando".
Certa tarde,
cinco anos depois,
no trabalho,
atendeu a telefonema
da esposa.
Pouco depois de desligar,
pálido por alguns segundos,
entrou em êxtase.
Com o semblante feliz
gritou várias vezes
para que todos, na repartição,
pudessem
ouvir:
- "Minha mulher está grávida.
Vou ser pai".
Ajoelhou-se e,
comovendo a todos,
com o olhar no crucifixo
pregado na parede,
chorou convulsivamente,
como só os pais
são capazes de chorar.
O texto, se possível fosse, para ser justo, deveria ser atribuído a uma mulher. Elas sim, e só elas, são capazes da renúncia total,de abrir mão do "EU" em benefício do "NÓS", de perdoar, "fazendo das tripas coração",o imperdoável.
ResponderExcluirNelson Rodrigues foi um dos maiores conhecedores da alma humana. Soube vê-la, entendê-la e perdoá-la como ninguém. O poema "O DUBLÊ", muito mais do NELSON do que meu, é minha homenagem ao grande Nelson Rodrigues.
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