Baseado em trecho do conto “O burrinho pedrês”, do livro SAGARANA, de João Guimarães
Rosa.
Vadico
era menino bom, quase um anjo...
queria
ser boiadeiro... era filho do seu Borges, o dono.
Bateu
pé com o pai, não queria sentar em escola,
pediu
por favor...queria pisar na lama, tratar com os bois.
Foi
na Laje do Tabuleiro... me assombra só de lembrar.
Seu
Borges levara a família para apreciar a boiada receber
sal com quina, por
causa que,
por
perto de lá, estava começando a peste.
Quando
Vadico viu o Calundú,
boi
de quem gostava por demais,
entrou
no meio da boiada, foi fazer festa no boi,
dar
sal para ele lamber na mão.
O
boi correspondia, alisava o menino com o focinho, lambia, devolvia o carinho, parecia
gente.
"Quem
é que havia de somar"?
"Aquilo
foi de supetão".
O
Calundú , com testada, jogou o Vadico no chão.
O
menino caiu debruço.
O
boi deu passo para trás e foi uma chifrada só.
Quando
Calundú puxou a cabeça e soltou o chifre,
o
sangue esguichou alto.
O
zebu deu as costas e foi andando vagaroso,
que
nem que não quisesse ver o crime que tinha feito.
"Seu
Neco Borges virou demônio, sacou o revólver".
Vadico
balbuciou sua derradeira fala:
-
“Não mata pai...não mata nem judia do Calundú”.
O
boi foi apartado em curral de fazenda vizinha.
Calundú
berrou gemido de fazer piedade à noite inteira.
Venâncio,
vaqueiro velho, explicou:
-
“Espírito mau entrou no boi ... ele está arrependido...
o
boi quer chamar alguma pessoa”.
Foi
com mais um para o lado do curral.
Calundú
parou de urrar... veio manso,
encostou na cerca,com jeito de quem
queria confessar algum mal feito.
Venâncio rezou para ele não poder falar.
No
outro dia, de manhã cedo, estava
morto, de arrependimento, no meio do curral.
Bem descrito! Ficou bom, conseguiu fazer um poema de uma curta passagem narrada por um vaqueiro. Meus parabéns!
ResponderExcluirBem descrito! Ficou bom, conseguiu fazer um poema de uma curta passagem narrada por um vaqueiro. Meus parabéns!
ResponderExcluirTouro assustador este da foto, com os chifres afiados. Parece um touro das arenas espanholas.
ResponderExcluirNúbia Nonato escreveu:-"Procurei o sentido para a expressão "calundú", talvez na vã tentativa de entender a "alma" do boi. Me resta a tristeza pela partida de Vadico e o arrependimento do boi que sem poder voltar atrás, se foi. Triste..."
ResponderExcluirMaria Célia Marques escreveu: -"Orlando, muito triste. Mais triste do que “Dezembra-me”. O pobrezinho do Calundu não batia em gente a pé, só gostava de correr atrás de cavaleiro. Enfrentou uma onça preta, pondo-a para correr. Matou Vadico, não sei por quê? Ele, antes de morrer, pediu que o pai não o matasse. Ainda bem que o pai não o sacrificou, só o mandou para outra fazenda.. O bichinho ficou uma noite apenas no curral. No outro dia, estava morto. Nem todos os humanos são assim. Emociona tanto! "
ResponderExcluir