Baseado no trecho final do conto "O burrinho pedrês"
do livro SAGARANA de João Guimarães Rosa
Na ida, atravessaram o riacho já em cheia.
Agora, volta, outra estória, era noite e chovia muito.
“- Os cavalos estão assustados... é a enchente”.
“Mas o riacho está longe...pelo menos meia légua”.
“É mais não, o rio cresceu, engordou, veio até aqui”.
Resolveram esperar o burrico. Ele iria decidir.
Burro não se mete onde ele não pode sair.
Badú, com o corno cheio, bêbado que nem gambá,
havia se atrasado e só restou, para ele, o burrinho.
Surgiu agarrado no Sete-de-Ouros, dormindo,
pernas compridas, os pés quase tocando o chão.
No barranco do rio, Sete-de-Ouros parou.
Orelhas firmes, para cima, para os lados,
tomava conhecimento com o vento.
Foi intervalo pequeno. Queria ir para casa.
Avançou resoluto. Os cavaleiros o seguiram,
menos Manico e Juca que medraram e voltaram.
Nove cavalos mais o burrinho na enchente.
Eram cabeças se metendo na volta de um laço.
Quando todos os cavalos já nadavam,
um remoinho serpeante, encapetado, os separou;
dali pra frente foi um salve-se quem puder.
Dilúvio sem fim, o mundo boiava, o rio era mar.
Por um instante o burro para...
deixa passar tronco... seria testada de touro.
deixa passar tronco... seria testada de touro.
Vestido de água, só queixo de fora, o burro,
sem nenhuma pressa... deixava-se levar.
Francolim, farto de beber água sem copo,
alcançou o rabo do Sete-de-Ouros e se agarrou.
Noite feia!
Oito vaqueiros boiando, córrego abaixo, de costas,
porque só as mulheres, os rios conduzem de bruços.
Sete-de-Ouros voltou a sentir terra nos cascos...
parou de nadar... trotou o trecho final.
Quando estancou, com um mole meio coice,
despediu Francolim que chegou depois.
Com Badú, pegou estrada, caminho de casa.
Da cavalhada, Sete-de-Ouros foi o único que voltou.
Querido irmão, achei o texto ágil, sem deixar de contemplar o que de melhor tem a história do Burrinho pedrês. Demorei para fazer o comentário porque fui ao texto original instigada pelo poema e querendo reativar a leitura feita há longos anos. Você condensa muito bem o que o autor conta sem pressa : a sabedoria do velho burrinho que ainda mantém , em sua decrepitude, a sabedoria, o faro e o instinto que o levam a se salvar e , " de quebra" a dois empregados da fazenda. O mais engraçado é que Badu, um deles, estava alcoolizado a ponto de não perceber o perigo.
ResponderExcluirEspero que continue com essa experiência. O " tecer " o texto roseano com palavras mais acessíveis , mas sem fugir de sua essência , pode criar em seus leitores o desejo de visitar o grande mestre. E não é o que todos desejamos: criar mais leitores? Bjs. Parabéns. Gostei muito.
Maria Célia Marques escreveu: -"Sete-de-Ouros voltou a sentir terra nos cascos... foi o único que voltou. É assim a vida! Lindo, embora triste."
ResponderExcluirO poema é uma fábula, ficou muito bom. O burrico exerce o papel de sábio devido a idade,acostumado a muitas viagens tocando manadas tomando chuvas, ouvindo trovões e vendo muitos raios rasgarem o céu diurno e noturno, sete de ouros é um burrico fantástico. Salvou-se do dilúvio e com ele o bêbedo do Badú, sorte teve Francolim, conseguiu agarrar-se ao rabo do burrico, levando por conta um leve coice de despedida. Sete de ouros foi o grande herói da história. Este poema ficou muito bom. Meus parabéns!
ResponderExcluirO poema é uma fábula, ficou muito bom. O burrico exerce o papel de sábio devido a idade,acostumado a muitas viagens tocando manadas tomando chuvas, ouvindo trovões e vendo muitos raios rasgarem o céu diurno e noturno, sete de ouros é um burrico fantástico. Salvou-se do dilúvio e com ele o bêbedo do Badú, sorte teve Francolim, conseguiu agarrar-se ao rabo do burrico, levando por conta um leve coice de despedida. Sete de ouros foi o grande herói da história. Este poema ficou muito bom. Meus parabéns!
ResponderExcluir