segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

AMOR INCONDICIONAL


          Para minha Mary Joe

No bairro de Sant’Ana,
na Rua Angélica,
no sobrado de número 23,
após sala e quartos,
seguindo pelo corredor
e antes da cozinha,
um banheiro
comprido e estreito
tomava quase toda
a largura da casa.

O terço inferior
de suas paredes
era pintado de uma
variante do vermelho,
o terracota de hoje.

Falo de 1950 quando
Mary Joe, refazendo
as cavernas da pré-história,
grafou no vermelho,
no canto esquerdo
do início da maior
das quatro paredes,
com giz branco,
a tabela de somar de dois.

-“Dois mais um”? -"Três".
-“Dois mais dois”? - "Quatro".  

Foi a primeira de toda a tabuada
que, com o passar do tempo,
foi grafando na parede.
Por quanto tempo,
não sei, mas foi bastante tempo.

Certo dia,
ao entrar no banheiro
não havia mais tabuada.
Mary Joe havia apagado
os “hieróglifos”.
Assustado, questionei;
Mãe...o que houve?
Sorrindo, me sossegou:
-“Não precisa mais...
você já sabe contar”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário