Baseado no conto "Tarantão, meu patrão", de Guimarães Rosa, do livro "Primeiras estórias"
Era
um homem velho,
caduco, de nome Dinis.
caduco, de nome Dinis.
No
mais perto da verdade,
quase
um moribundo.
Fora
levado à fazenda
para
não vexar os parentes.
Cercaram-no
de conforto,
de gente preparada para cuidar.
O
velho Dinis, agora
por
estar atarantado,
era chamado de Tarantão.
Naquele
dia, ainda madrugada,
em
caduquice inusitada,
Tarantão
arreou cavalo.
O cuidador principal,
acordado
as pressas,chegou.
Tarantão definiu:
Tarantão definiu:
-“Menino,
hoje é sério demais para você. Fique fora”.
Pelo peso da palavra percebeu
que
Tarantão estava em tempo de guerra.
Ia
matar o sobrinho-neto,
o
doutor Magrinho, médico que o tratava.
Já na sela, pronto para fazer e acontecer,
não
deu ao tratador, outra alternativa.
Em dia de Sancho Pança,
pegou
montaria, foi atrás de Tarantão,
que
calçava botas: uma preta e a outra marrom.
Na mão do braço direito, portava faca de mesa.
“ Vamos direto pegar o Magrinho.
Hoje
eu acabo com aquele médico”.
Durante a andança,
convocou quem encontrava,
e
não faltou quem aceitasse o convite.
Já no arraial do Breberê,
quando
ouviram foguetório de festa local,
Tarantão
parou e, para a comitiva,
que
já era de cinco, explicou:
-“Tão
me saudando.
Sabem que sou matador”.
Sabem que sou matador”.
Quando
chegaram à cidade do doutor,
era uma cavalaria de treze.
Foram direto para a "casa grande".
Encontraram a família em festa.
Batizado da filha do doutor Magrinho.
Todos
se assombraram ao ver Tarantão.
Como
teria adivinhado o dia,
a hora justa da festa?
a hora justa da festa?
Para os parentes, surpresos e em remorsos,
Tarantão ergueu o braço.
Cabelos
e barbas brancas.
No meio, o azul
daqueles seus grandes olhos.
No meio, o azul
daqueles seus grandes olhos.
-“Eu peço a palavra”
Era tudo um só espanto!
Voz portentosa, sem paradas,
falou sem que nada se entendesse...
baboseiras
das quais ninguém sabia,
ideias
tortuosas, esquecidas ou mal lembradas.
Falou,
falou, até que, porque quis, parou.
Os parentes o aplaudiram,
se abraçaram,
saudaram-no como a alguém
muito querido e deram-lhe
a cabeceira da mesa.
muito querido e deram-lhe
a cabeceira da mesa.
O velho de tudo provou,
bebeu
e comeu.
No
fim da festa, pacificado,
fez cavalgada de volta
fez cavalgada de volta
Na
outra manhã, da sua cama,
não
se levantou.
De olhos azuis escancarados,
com sorriso nos lábios,
com sorriso nos lábios,
Tarantão
havia se "encantado".
Tarantão estava alucinado, ultrapassou o limite, mas a recepção amigável do desafeto o desarmou. Transformando o que poderia ser uma tragédia...em uma reunião alegre e festiva. Mujito bom, meus parabéns!
ResponderExcluirPensei no meu pai e suas visagens pois se forças ele tivesse até eu levaria rabo de arraia. Texto gostoso de ler, eu espero que em minhas caduquices somente as borboletas me acompanhem. Abração amigo.
ResponderExcluirHira Cerqueira escreveu: -" JGR o grande, sempre inspirando os de talento. Parabéns pelo poema, gostei muito."
ResponderExcluirCybele Pimentel de Sá -" Adorei o texto. Leva a uma reflexão. Loucura não seria o último grau de ausência de carinho, de atenção??? Ficou em mim a pergunta. O final foi o Nirvana para ele que finalmente descansou em paz." .
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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