segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

MEU AMIGO



Baseado no conto FATALIDADE do livro “PRIMEIRAS ESTÓRIAS” de João Guimarães Rosa. 


Era delegado de polícia
e de nome Meu Amigo.

Exercitava tiro em seu quintal,
quando homem baixo, 
com ar e traje de caipira o procurou.

Era Zé Centeralfe, 
do arraial do Pai-do-Padre,
onde a marca da autoridade estava em falta.
Era a razão e o motivo da visita.

Era feliz até que foi infernar lá,
um desordeiro que botou olho na sua mulher.

Meu Amigo interrompeu:
-“É um Herculinão cujo sobrenome Socó”?

Confirmou e representou:

Para não estropiar a lei, 
mudou-se com a mulher.

O biltre não tardou 
em aparecer no novo arraial.

Fugiram novamente, 
de lá para cá,
 que é cidade de Delegado.
 Viera dar parte.  

O encapetado veio nos rastros.

"Eu quero é a lei", disse Centeralfe

Meu Amigo levantou-se, 
remexeu em suas armas,
escolheu uma, 
verificou o tambor cheio
e a deixou em lugar destacado.

Voltou olhando para Zé Centeralfe.

Vagarosamente, 
desviou rosto e o olhar
para a arma que manuseara.
Voltou, novamente, 
os olhos para o caipira,
 depois, para a arma, 
como que a o puxar à lição.

O outro entendeu a chave do jogo,
arregalou os olhos, e disse: -“Aaah!!!” .


Assim, se foi Zé Centeralfe.

Meu Amigo, a cavalo, 
um pouco atrás o seguiu.

De repente, 
lá vinha o malígno.

Meu Amigo fez fogo.

Com algo entre os olhos,
o falecido Herculinão arriou.

Três haviam tirado a arma,
só dois tiros foram ouvidos.
Herculinão não teve tempo... 
foi o mais lento.

Uma outra bala, a primeira,
a do Centeralfe, 
acertou-lhe em cheio o coração.

Meu Amigo, 
sendo fatalista, pensou:

“A vida de um ser humano,
entre outro seres humanos é impossível.
O que vemos, é apenas milagre,
salvo melhor raciocínio”.

Apontando para o defunto, disse:
-"Resistência à prisão..."

2 comentários:

  1. Meu amigo...era homem prático. Percebendo a situação do Caipira e resolveu ajudar. Centeralfe entendeu o manuseio e a finalidade da arma.Despediu-se, recusando o café e a cachaça, dizendo ,seja que aceite, mas, depois. O caipira partiu, determinado e aliviado...

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