Eram
quatro os irmãos Dagobé.
O
mais velho, Damastor,
fascínora,
arrastava os demais,
fazia
dos mais novos, fama de ruins.
Sem
sabida razão,
implicara
com Liojorge,
moço
pacífico e bom,
de
quem resolveu cortar a orelha.
Quando
apareceu, com punhal na mão,
o
rapaz, que arranjara uma garrucha,
despejou-lhe
certeiro tiro no peito.
É
a causa de estarmos agora,
no
velório do Damastor Dagobé.
O
povo, quase todo, apesar da chuva,
por
bisbilhotice ou medo, veio fazer
as devidas honras,
mas,
o que queriam mesmo, era
ver a hora da vingança.
Liojorge,
comentavam,
já
era, irremediavelmente, um morto.
Os
irmãos, no velório, fazendo as honras,
pareciam
alegres, estavam quase felizes.
Achavam que os irmãos antegozavam a vingança.
Ninguém,
ali, daquilo tinha dúvida.
O matador era um, antecipadamente, defunto.
Gente mais chegada,
trouxe
recado para Doricão Dagobé,
o
mais velho e agora o líder dos irmãos.
O Liojorge mandara dizer
que
matara com respeito,
só
por não ter como não fazer.
Pedia
autorização para ir ao velório.
Entre
cafezinhos, cachaça e pipoca,
o
povaréu não acreditava no que ouvia.
Então
ele não sabe, que presente o matador,
torna
a sangrar o morto matado?
O
que ninguém não podia acreditar, aconteceu;
Doricão
disse: -“Que viesse...depois do caixão fechado”.
O
que se comentava é que era armadilha.
Era
chegar e ser fuzilado pelos três.
Quando
se fechou o caixão, cochichavam:
Já,
já ele vem. De fato chegava.
O
povo se arredou, temia bala perdida.
Liojorge
saudou os três e se postou
ao
lado de uma das alças do caixão.
A
chuva que caiu a noite inteira,
como em respeito, fez uma pausa.
O
importante enterro saiu.
No
cemitério, descido o caixão,
jogada
a terra e o cal do finalmente,
não
ficou ninguém perto de Liojorge.
Era,
pelo menos pensavam, a hora da morte.
Os
dois irmãos ladeavam Doricão.
O
povo todo de olhos esbugalhados,
esperando
o puxar das armas que não houve.
Doricão,
para Liojorge e para todos, falou:
“Se
recolham. Acabou...nós vamos mudar da cidade.
Meu
saudoso irmão é que era um diabo”.
Assim que o enterro se desfez, a chuva voltou a cair.
Cybele Pimentel Sá escreveu: "Querido irmão, ao ler o seu Velório, lembrei-me da citação roseana que me parece enquadra-se bem com o seu texto: " Por enquanto, que eu penso, tudo quanto há neste mundo é porque se merece e carece. Antesmente preciso. Deus não se comparece com refe, não arrocha o regulamento. para quê? deixa - bobo com bobo - um dia , algum estala e aprende: esperta. Só que às vezes, por mais auxiliar, Deus espalha, no meio, um pouquinho de pimenta".
ResponderExcluirMesmo tendo conhecimento sobre o conto, me foi narrado por você. Fiquei preso a obra em verso. Muito bem reduzido, sem fugir do original. Ao ler este poema, percebe-se o pensamento dos irmãos Dagobé. A morte do mais velho libertou os mais novos, pois ficou provado na atitude durante o velório e na decisão de se mudarem de cidade. Os demais eram de boa índole, o mais velho um demônio. Gostei muito !
ResponderExcluirNúbia Nonato escreveu: -"Ninguém gosta de ditadura, de mandos e desmandos, de ser delineado por uma caricatura, uma imagem que nem de longe faz jus a sua alma. O acaso trouxe a redenção. Bem narrado, amarra o leitor. Muito bom poeta."
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