sábado, 16 de maio de 2015

MEUS MORTOS





A ânsia cessou.
Os olhos se estatelaram,
janelas para o nada. 
Acho que naquele instante, 
houve a morte cerebral 

Foi, então, 
que os vi entrando,
sem aviso prévio 
e sem convocação.

Um a um, em silêncio,
pela porta do quarto número três
do Hospital da Cruz Vermelha.

Na frente, Seu Camacho e Vovó Laura.
Depois Seu Homero e Dona Jacyra, pais da Bete.
Por fim, Tia Paulinha e meu pai, Rosemar Pimentel.
Todos já mortos.

Posicionaram-se em volta da cama,
esticaram os braços sobre minha mãe.

Moviam as mãos como se desatassem nós.

Com uma brisa perfumada e com a cama
transformada  em invisível maca,
foram por uma rampa, também invisível,
levando o que penso ser, 
a essência de minha mãe,
pelas beiradas do céu.

Foi assim que 
vi a transformação, 
o encantamento de Mary Joe.

2 comentários:

  1. Terminar...me soa estranho, como fim. É maravilhosa esta certeza da imortalidade, de que entes queridos estão à espreita prontos a nos bafejar e com certeza Mary Joe fez por merecer. Infinito abraço.

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  2. Ela foi na paz e muito bem amparada pelos entes queridos já em outro plano.Saudades!

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